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Arquivo da tag: luciana oncken

Citi ou Itaú?

alianças

Recentemente, recebi uma mala-direta do cartão de crédito Diners dizendo que em breve eu receberia uma proposta especial. Depois de uns dois dias, veio uma outra mala-direta, quando eu abri, havia um pedido de casamento, e as alianças vinham em destaque. Mais uns dois dias, e recebo o convite de casamento, com o meu nome e do Citibank como noivos. Achei o material muito bacana.

As intenções do noivo pareciam as melhores: livre de taxas durante um ano, boas taxas de juros, proposta de empréstimo bancário. Um pacote completo. Não vou negar que fiquei bem impressionada com “o moço”. Mas como não sou uma garota fácil, não respondi ao pedido. Eis que o noivo insiste e liga para mim. Eu não preciso ir até ele. Ele virá até mim para consumarmos o casamento. Como o Itaú tem me decepcionado um pouco, resolvi aceitar a visita do Citi, e conferir pessoalmente a seriedade de sua proposta, se ele realmente queria me assumir como cliente.

Pois bem. Marquei a conversa para uma segunda-feira à tarde, no meu trabalho. O Citi, muito simpático, me convenceu, e casei ali mesmo, tendo os meus funcionários como testemunha. Assinei a papelada. Entreguei os documentos. E ele disse que entraria em contato para combinarmos como ficaria o nosso relacionamento. Acho que levei um bolo do noivo, depois do casamento. E, até agora, aguardo a lua-de-mel. Só hoje, liguei para o Citi três vezes. Ele me ignorou. Disse que estava ocupado, me ligava mais tarde. Nada.

Estou com vontade de pedir anulação do casamento. Acho que tenho direito. Afinal, o fato ainda não se consumou. Pelo menos, não para mim. Estou pensando seriamente em ficar com o Itaú mesmo, que pisa na bola de vez em quando, não oferece tudo o que eu desejo, mas já é meu velho companheiro de quase 10 anos e eu já conheço as suas manias.

Ai, ai… Como será o meu relacionamento depois desse um ano sem cobranças? Que meda!

Moral da história: quando a esmola é demais, o santo desconfia.

 
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Publicado por em março 28, 2008 em 1

 

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Nós e os outros

magrite 

Costumamos pensar que conhecemos as pessoas. Nunca as conheceremos em sua totalidade, o que vai no íntimo, as dores, as feridas. Um olhar denuncia, a voz embargada, as mãos, um gesto. Cada um tem seu peso, seu fardo, seus medos. O que vivemos nos transforma a cada dia. O que passamos nos marca a cada instante. Lutamos contra nós mesmos, contra quem somos, contra quem poderíamos ser. Estamos sempre em busca. Nunca estamos completos. E continuamos pensando que conhecemos o outro, se não conhecemos nem a nós mesmos.

 
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Publicado por em fevereiro 27, 2008 em 1

 

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Fazer diferença

porta

Fotografo a cidade com os meus olhos. Tem coisas que eu não consigo deixar passar batido. Algumas me divertem. Hoje, fui tomar um café numa loja de conveniência, num posto de gasolina, no bairro do Itaim. Parei o carro diante de uma daquelas máquinas de tirar foto instantânea. Fiquei olhando e pensei há quanto tempo não via uma dessas e que elas estão fadadas a se extinguir. Quase todos já aderiram às fotos digitais nas lojas de fotografia.

Nas antigas máquinas de fotos instantâneas você só tem uma chance de sair bem na foto. Nas máquinas modernas, tiram-se diversas fotos e você escolhe a que ficou melhor entre as ruins para imprimir. Quando estava saindo, olhei bem para a máquina, suja, desbotada, com cheiro de passado, e vi um bilhetinho colado: “Foto com o frentista”. E viajei, imaginando as pessoas passando por ali e parando só para tirar uma foto com o frentista de plantão. Uma vírgula depois da palavra foto faria toda a diferença.

Por falar em fazer a diferença, passei por uma casa de espetinho, na Vila Prudente, e encontrei esta frase como slogan: . “Nem melhor, nem pior. Apenas diferente.” Um belo conceito para uma lanchonete de espetinhos, não? Só fiquei imaginando o que seria um espetinho diferente. Preferi ficar só na imaginação.

 
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Publicado por em fevereiro 22, 2008 em 1

 

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O mundo é dos NETs?

TV

Esta manhã acordei pensando naquela propaganda que diz “que o mundo é dos NETs”. Para quem não sabe o que é um NET, eu explico: os NETs são seres irracionais, como eu e meu marido, que continuam a pagar “a bagatela” de R$ 240,00 por mês por um serviço que funciona pela metade. Diga-se pela metade, como o rapaz do download incompleto da propaganda da “Festa do NETs”. O rapaz deveria ter protestado, assim como eu. Aliás, ele teve até sorte de conseguir fazer o download pela metade. Tem dias que eu não consigo ao menos acessar uma página ou assistir a um vídeo no You Tube. Tem dias, simplesmente, que o servidor não é encontrado.

Talvez eu e o meu marido NET não tenhamos entendido qual é este tal mundo dos NETs. O mundo em que eu me incluo, “por ser uma NET”, é um mundo sem telefone, sem televisão e sem Internet. Ou seja, sem chateações. É um mundo puro, sem interferências, como no passado, como o mundo de nossos ancestrais. Não é bonito isso que a NET quer trazer de volta para nós? O mundo NET é aquele em que somos obrigados a nos confrontar, a entrar em contato com o nosso eu, com o nosso mundo interior. Este é o mundo dos NETs, um mundo só nosso, porque não temos com quem trocar uma palavra, quando estamos sós, em casa. Um mundo em que não podemos fugir da realidade mergulhando no mundo da ficção. Um mundo que nos preserva da realidade do mundo lá fora. Afinal, tão violenta. Assim, eles nos dão algumas opções à loucura do mundo moderno: ficar em casa, lendo um velho e bom livro; meditar; ou sair e ir para um bar, conversar com os amigos. Acho uma atitude desprendida esta da NET, mesmo sendo uma empresa que vive da comunicação como negócio, incentivar a comunicação interperssoal, ou o conhecimento mais profundo de nós mesmos.

Você vê, começou com uma pequena falha em dois canais de relevância: Multishow e Warner. Depois, passou para o Telecine Action. Nas semanas seguintes, foi atingindo cada vez mais canais: Universal, GNT, Globo News, AXN, Discovery…Hoje, o número chegou a 37 canais. Quando tento sintonizá-los, vem a agradável mensagem:

– Sinal não encontrado. Se o problema persistir, chame a sua operadora…4044-7077

tv1

Olha só, a tática usada por esses sábios é, aos poucos, ir exterminando esse vício da televisão. Começam com doses homeopáticas e vão aumentando a intensidade, até você começar a perceber que pode viver sem ela. E se você tentar a fuga pelo telefone, eles dão um jeito na hora. Linha contínua. Não completa a chamada. Assim, você não pode nem ao menos reclamar e vai se acostumando ao mundo como ele era no início da criação. Não é interessante? E se você tentar a Internet. Cráu! Ela cai. O servidor não dá o ar das graças. Você não tem para onde ir. E começa a viagem ao interior do seu mundo interior.

Ainda em crise de abstinência, ontem, fui tentar ligar para reclamar. E foi exatamente o que aconteceu: o telefone não completava ligações. Consolei-me, por algum momento, com a Internet, até que a conexão caiu. Servidor não encontrado. Fui para a sala assistir a um dos poucos canais que me restaram. Não estava no clima de um livro; nem tão pouco de meditar; e estava sem telefone para marcar uma baladinha com os amigos. Eu até tentei, pelo celular (que não é NET), mas era uma segunda-feira, e eu dificilmente encontraria alguém disposto a sair de casa numa noite fria e chuvosa de verão. Mas a NET facilitou a minha escolha, porque diminuiu o número indecente de canais a minha disposição, que dificultava escolher apenas um.

Mais calma, hoje, resolvi ligar do meu telefone NET, que resolveu funcionar. Para minha surpresa, o atendimento foi rápido, diferentemente dos outros dias em que tentamos ligar pelo celular (porque não tinha telefone fixo funcionando), em que até desistimos de tanto esperar. E por maior que fosse a boa vontade (sem ironia) que o atendente Rodrigo tenha apresentado, todas as suas tentativas de solucionar o problema à distância falharam. Resta-me esperar a visitinha do técnico amanhã de manhã. Pelo menos, vou ter com quem conversar. Será que ele vai me “dar um bolo? Porque se for eu a “dar o bolo”, o Rodrigo me avisou, a visita será cobrada. Se forem eles, ainda segundo o atendente, tudo bem, fica por isso mesmo e marcamos para outro dia. Tudo para eu me acostumar à convivência com a minha pessoa.

Este é o mundo dos NETs. Se você acabou de contratar os serviços dessa empresa, bem-vindo ao clube.

 
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Publicado por em fevereiro 22, 2008 em 1

 

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O olhar

olho

O que é o olhar? O olhar pode ser negativo e intransigente. Frio e maldoso. Aí a pessoa vê qualquer coisa sempre pela perspectiva do mal. Não consegue distinguir as boas das más intenções. Ver as coisas pela perspectiva do bem é achar que sempre dá para colaborar com a pessoa que está ali do lado, seja amigo ou colega, seja subordinado ou superior. É pensar que ninguém é ruim por completo ou bom por completo. Todos temos o nosso lado bom e o nosso lado mal. E dependendo do dia, por mais que sejamos “bons”, temos pensamentos tortos e surgem atitudes tortas.

Mas aí não há nada como um dia depois do outro para consertar o que estava torto. Talvez seja ingenuidade de quem tem o olhar positivo sobre o mundo, mas elas são assim. O problema é que encontra pela frente aqueles que não sabem que ninguém é totalmente bom ou totalmente mal. Então, se você der uma escorregadinha ou não agir de acordo com as perspectivas daquelas pessoas, você será rotulado: “no fundo ele sempre foi um filho da puta”. Não existem pessoas más e pessoas boas. Existe olhar. O olhar negativo, o olhar positivo. É isso que faz a diferença entre as pessoas.

 
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Publicado por em julho 4, 2007 em 1

 

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Amizade sem prazo de validade

Um amigo para todas as horas. Um amigo para qualquer coisa. Daquele que te procura sempre e que está sempre ao seu lado, mesmo quando não concorda com você, independente do momento, seja bom, ruim, neutro, novo, velho, seja para ficar calado, ou falar sem parar, seja para chorar ou rir, ver um bom ou um péssimo filme, seja para ir a um bom restaurante ou à padaria da esquina. Um amigo que costuma contar tudo para você em primeira mão, um amigo que pede e dá conselhos, mesmo que não seja para seguir. Cadê você amigo? Hoje, só te encontro nas conversas de bastidores, sei de você pelos outros. Quero respeitar o seu momento, do qual por algum motivo não quis que fizéssemos parte. Amizade não tem prazo de validade. Amizade não se pede. Não se mendiga. Ou se tem, ou não se tem. Se for de verdade, e eu acredito e tenho no meu coração, por tudo que passamos, que é, você retorna no momento que tiver e que quiser voltar. Nós estaremos sempre prontos para recebê-lo.

 
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Publicado por em junho 14, 2007 em Postagens

 

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Pequenas coisas e coisas pequenas…

É, tem dia que você se encanta com as pequenas coisas
um dia de sol, um céu prá lá de azul, uma paisagem ofuscante, uma flor, um beijo…
tem dia em que você encontra coisas pequenas
normalmente pessoas
pessoas pequenas
de pensamento pequeno
de atitude pequena
que com pouca coisa
se acham muita coisa
que não sabem distinguir o que é passageiro
do que é para sempre
Nas pequenas coisas, estão grandes momentos
Nas coisas pequenas, grandes decepções

 
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Publicado por em junho 13, 2007 em Postagens

 

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TRECHO DE JORNAL: INDIGNAÇÃO

oscar freire

Obra do metrô varre esquina da Oscar Freire
“Acho triste essa mudança. A Oscar Freire não é uma rua para ter metrô”, diz a comerciante Luciana Liz, 29. “Não é por isso que a elite vai aderir ao metrô. Por aqui, metrô é coisa de pobre.”

Trecho de reportagem do Jornal Agora São Paulo de 1 de abril de 2005.

INDIGNAÇÃO –

Acho triste ter na minha cidade pessoas que pensam assim. Acho triste ter gente que pensa que transporte público é coisa de pobre, que a Oscar Freire, tão chique, tão limpa, tão cheia de lojas refinadas, que a Oscar Freire sem fios deve se isolar do resto da cidade.

Uma pessoa assim propõe uma segregação. De um lado, a São Paulo dos ricos. De outro, a São Paulo dos pobres. E fiquemos na nossa ilha de ilusão. Achando que distantes da São Paulo dos pobres estamos protegidos da pobreza, da violência, da poluição, de “ver gente feia”.

Não, Luciana, infelizmente, principalmente a curto prazo, não vai adiantar colocar o metrô na porta da elite para ela aderir ao metrô. Pelo contrário, talvez a elite fuja do metrô. Talvez a elite rejugie-se em outra ilha. Mas a elite, Luciana, felizmente, não pode impedir o crescimento da cidade.

E tem mais, a elite depende da tal gente pobre, que para se locomover depende da tal coisa de pobre, como o metrô, que é bem mais rápido do que o ônibus, que polui muito menos que o ônibus, outra coisa de pobre que temos por aqui.

Quantas e quantas pessoas, aquelas que você chama de pobres, mas que são trabalhadores, pessoas de classe média, média baixa e de baixa renda, trabalham nas lojas da elite? São vendedores, auxiliares, encarregados de limpeza. E quantas empregadas domésticas trabalham na casa da chamada elite? Como você acha que elas chegam até o trabalho?

Quer dizer que o metrô não devia beneficiar estas pessoas, simplesmente porque a Oscar Freire não é rua para ter metrô? Então estas pessoas merecem ficar horas e horas esperando um ônibus sempre cheio porque a elite não quer ter o metrô em sua porta?

E você diz que “por aqui metrô é coisa de pobre”. Como assim, por aqui? Será que por aqui metrô é coisa de pobre porque a elite se acha muito superior para dividir o transporte com gente de todas as classes? Será que em outros países o pobre é menos pobre? Aí quando você vai para Paris, ou Londres, ou Nova York, você se mistura com os pobres de lá. Vai ver é porque pobre de Paris é mais chique que pobre de São Paulo. É isso que você pensa?

Será que em outros países o metrô não é coisa de pobre? Será que as pessoas da elite se servem do metrô? Talvez não. Mas elas também não tentam impedir que o metrô passe na porta de suas casas. Afinal, a grande massa trabalhadora depende do transporte público em qualquer parte do mundo. A cidade é feita para todos. A cidade não é feita para uma pequena parcela da sociedade. Uma parcela que não está nem aí se usar o carro todos os dias polui a sua cidade. A cidade não é feita para pessoas que pensam pequeno como você. A cidade é do povo. E o povo daqui, em sua maioria, é pobre sim, infelizmente.

Aliás, Luciana, o que é elite para você? Talvez ela esteja ofendida com a sua colocação.

Por Luciana Oncken, uma outra Luciana, que mora entre a Lorena e a Oscar Freire, mas que não se considera elite, mas sim uma moradora da cidade de São Paulo; da São Paulo com todas as suas faces. Uma Luciana que sonha em ver esta São Paulo transformada por todos, inclusive e principalmente, pela elite.

 
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Publicado por em junho 7, 2007 em Postagens

 

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Imóveis

APRESENTAÇÃO DA PERSONAGEM – Dra. Ângela

Médica dermatologista, 52 anos, casada. Angêla estava sozinha num final de semana. Seu marido, também médico, estava num congresso longe da cidade. Ela resolveu sair e caminhar pelo bairro.

Não havia planejado nada, mas ao passar por um prédio viu que havia uma placa indicando um apartamento para vender. Apesar de já passar das seis da tarde e já tendo anoitecido, ela resolveu perguntar ao porteiro se havia como ver o tal apartamento. Não tinha muitas esperanças de que consegueria. Ficou surpresa quando o porteiro ligou para o apartamento e a proprietária autorizou a sua visita.

Fora das normas do condomínio, que só permitia este tipo de visitas até às 16h, ela subiu. Antes, deixou seus dados na portaria. Número do RG, nome completo, profissão e endereço.

O apartamento era no primeiro andar de um prédio já antigo. Três dormitórios, dois banheiros, mais um quarto extra para dispensa, boa sala, cozinha espaçosa. Uma senhora a esperava com a porta aberta quando ela subiu. Devia ter uns 75 anos, cabelos grisalhos, ajeitados, elegante em seu tailler.

– Oi, querida, boa noite, pode entrar – disse a simpática senhora.
– Boa noite – respondeu Ângela, um tanto tímida e meio curvada.
– Parece até que eu estava mesmo aguardando alguém. Tenho um bolinho e um café. Aceita?
– Não, senhoraaaa…
– Ah, me desculpe, meu nome é Dirce. O seu é?
– O meu é Ângela.
– Então, Ângela, aceita um bolinho com café?
– Ah! Senhora Dirce, obrigada. Não quero incomodar, desculpe vir a esta hora.
– Não tem problema, querida, não tem problema. Vamos ver o apartamento?
– Claro!
– Temos aqui uma boa sala. Tenho muita coisa aqui, mas bem que eu podia me livrar de metade disto. A gente junta muita coisa nesta vida. Olha, é que agora não dá para ver, mas é bem iluminada. Face norte. A janela é grande… É para você mesma?
– Ah! É…
– A senhora é casada?
– Ah! Sou… sim – diz Ângela, mostrando a aliança e um pouco de desânimo.
– Olha a cozinha, que beleza de espaço. A área de serviço também é muito boa, dá pra por uma mesa de passar, tem bastante armário. É bem ventilado. Não é como os apartamento de hoje em dia, tão pequeninos. Este aqui parece mais uma casa.
– E por que a senhora está querendo sair daqui?
– Ah, minha filha, este espaço ficou muito grande para mim.
– Ah é, os filhos vão embora…
– Não, eu não tenho filhos.
– Não?
– Não. Éramos apenas eu e meu marido. Faz 12 anos que ele morreu e desde então… estou só.
– Não tem família aqui.
– Não, já casei tarde. Nem pensei em ter filhos. Acho que éramos meio egoístas, na verdade. Tínhamos um ao outro e nos bastávamos.
– Mas a senhora gostaria de ter tido filhos?
– Talvez. Mas não sei não se ter filhos significa ter companhia. Hoje, vemos tantos pais abandonados.
– É, a senhora tem razão.
– Sobre o quê?
– Ter filhos não afasta mesmo a solidão.
– Vamos ver os quartos. São 3, sendo uma suíte.
– Pensei que fosse um pouco menor.
– Não. São 3 bons dormitórios. Bem iluminados, bem ventilados. Muito agradáveis. Venha.

Saíram da cozinha e caminharam em direção ao corredor íntimo. Lá estavam, bem distribuídos os três dormitórios.

– Mas quantos metros quadrados tem este apartamento?
– São 130 de área útil.
– É um bom tamanho.
– A senhora tem filhos?
– Dois.
– E mesmo assim sente-se solitária?
– Sim – disse meio sem pensar – quer dizer, não…, às vezes… sabe, eles saem, têm a vida deles, os amigos, a escola…
– Nunca sobra tempo para os pais, não é mesmo?
– É.
– Olha este quarto aqui, que beleza. Aqui é a minha biblioteca, mas pode ser o quarto de um de seus filhos.
– Ah! Não, um já mora sozinho. E a mais nova vai passar uns tempos estudando no exterior… Estou vendo que a a senhora gosta mesmo muito de ler.
– Gostávamos, eu e meu marido. Ficávamos horas em silêncio, um ao lado do outro, lendo, lendo. Era isso que nos aproximava. Este conforto de estar junto sem precisarmos pronunciar uma só palavra.
– Nunca tinha pensado as coisas por este lado.
– Pois é, minha querida, a vida está nestes pequenos grandes detalhes. A gente aprende com o tempo. Este negócio de discutir a relação é coisa de gente desmiolada. Coisa da juventude. Relação não se discute, se vive.
– O problema é quando nem se discute, nem se vive…
– Aí é triste.

Ângela dá um sorriso amarelo, vira-se e vai em direção à sala.

– O jogo, como está? – referindo-se ao jogo da Copa do Mundo: Alemanha X Portugal, que passava na TV ligada na sala.

– O jogo? Ah, vai indo…
– Bom obrigada pela atenção, vou falar com o meu marido.
– Era o que você procurava?
– É muito bom. Mas estava pensando num um pouco menor.
– Não quer saber o preço?
– Ah, claro. Imagina, ia me esquecendo…
– Acontece. Olha, estava pedindo R$ 350 mil, mas se fecharmos negócio, posso abaixar um pouco, já que não teremos intermédio de corretor.
– 350 mil?
– Pense com carinho e volte para conversarmos… Não só sobre o apartamento. E da próxima vez você toma o meu cafezinho.
– É muita gentileza.
– Mora aqui perto?
– Sim, a dois quarteirões – e foi saindo, andando de costas.
– Volte.
– Obrigada – diz e tropeça no tapete da porta de entrada.
– Oh, desculpe, tome cuidado, filha.
– Não foi nada, está tudo bem.

 
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Publicado por em maio 26, 2007 em Postagens

 

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Imóveis

INTRODUÇÃO –

Procura-se um apartamento. Procura-se muito mais que isso. Um lar, uma vida. Procura-se um lugar para projetar sonhos, para abrigar pensamentos, nosso corpo, nossa vida. Procura-se um lugar para nos trazer segurança, para levar os amigos, para amar, construir uma família, dividir uma outra. Procura-se um lugar para construir vida nova. Deixar o velho para trás. Procura-se um lugar para se esconder.

Todos precisamos morar. Procurar uma casa ou um apartamento está muito além de procurar um espaço para guardamos nosso corpo todos os dias ao anoitecer e tornar a colocá-lo para trabalhar novamente no dia seguinte. No ato de procurar um apartamento muitas coisas estão envolvidas, muitas expectativas e toda a nossa história de vida.

 
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Publicado por em maio 25, 2007 em Postagens

 

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